terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Quem trabalha pra quem?



No Brasil existiu, e ainda existe em muitos lugares, um sistema chamado coronelismo. O coronelismo, por sua vez, é uma mistura bizarra de máfia com feudalismo onde o coronel faz as vezes de senhor feudal ou de padrinho à lá poderoso chefão. Onde há o coronelismo, o povo vive em condição de subserviência a este senhor todo poderoso. O coronel é adorado por alguns e temido por outros, e é, via de regra, um déspota.

Um coronel pode começar seu “reinado”, a partir de um título acadêmico real ou auto-proclamado; ou seja, ele vai sempre ser um “doutor- alguma-coisa”, tenha ele se formado em medicina, direito ou qualquer coisa; ou não. Assim, o povo vai sempre tratá-lo por uma alcunha respeitosa; ele vai ser “o doutor”; “o padrinho”; ou apenas, “o coronel”; isto dependendo da região do país. Ele pode, inclusive, dar origem a uma dinastia de coronéis.

O povo, por sua vez, vive em um feudo onde as regras são feitas pelo coronel. Em muitos lugares onde o sistema coronelista existe, há um sistema empregatício no qual o coronel emprega muitos em suas terras. Aqueles que trabalham nestas terras, além de serem serviçais, devem “favores” ao coronel; são praticamente coagidos, psicológica ou fisicamente a dependerem dos produtos vendidos nas próprias terras do coronel, fazendo com que seu “salário” tenha sua volta assegurada ao patrão. Outro favor que os trabalhadores devem ao “padrinho” é o do voto; o coronel garante seus poderes políticos por meio destes “favores” obtidos junto ao povo; é aí que entra o nosso verdadeiro assunto.

O que tudo isto tem a ver com nosso dia a dia? Tudo. Porque as marcas do coronelismo estão tão arraigadas no subconsciente do brasileiro quanto as marcas deixadas por nossos ancestrais das cavernas. O brasileiro, por mais que viva em metrópoles, ainda enxerga o politico como um coronel; e, obviamente, o politico também se vê como esta figura autoritária. O brasileiro ainda se vende por “favores” ao padrinho; seja por uma dentadura, um saco de cimento ou a promessa de uma obra em sua comunidade. O brasileiro ainda se vê como um serviçal do politico e o politico se vê como um senhor feudal do povo.



Duvida? Então veja só o que aconteceu em plena virada de ano, quando todos estavam “distraídos” com suas festas e compras de fim de ano: A câmara aprova um aumento de mais de 60% do salário dos próprios parlamentares; que, diga-se de passagem já não dos mais parcos, ainda mais contando com outras regalias como direito a carros particulares, viagens custeadas pelos contribuintes, etc...

Ora, se isto não é coronelismo, o que é então? Democracia é que não é; democracia é o povo no poder; na democracia o povo é o patrão e o político é o serviçal; nunca o contrário. Então me responda, sábio leitor, se o povo é o chefe e o politico o empregado, quem deve aumentar o salário dos parlamentares? Eles próprios? Nunca. O povo é quem deveria decidir estes assuntos, ou pelo menos interferir, opinar, manifestar-se e o que é melhor, despedir os funcionários incompetentes. Mas o que estamos fazendo? Estamos acanhados, tal qual aqueles mesmos caras que engoliam sapo dos coronéis. Estamos colocando os mesmos coronéis no poder, até os dias de hoje.O salário do povo ainda está voltando para os bolsos dos coronéis, só que agora por meio de impostos e falcatruas.

Enquanto não encararmos a realidade, aprendermos sobre politica e sobre a verdadeira democracia, os parlamentares e todos os coronéis do governo vão continuar aumentando o próprio salário e reduzindo os nossos, como se eles fossem os patrões e não nós. Eles vão continuar mandando e desmandando, nos mantendo analfabetos, não só de letras, mas analfabetos políticos para sempre; assim garantindo esta nossa postura feudalista.

É hora de tirarmos, de uma vez por todas, este legado maldito herdado de nossos antepassados que engoliram coronéis e ditaduras, pensando que o sistema era aquilo mesmo. Ele não é. Nós deveríamos estar no poder e a única forma de colocar as coisas nos devidos eixos é com uma mudança cultural e educacional. Se o governo não nos dá educação, então vamos tomá-la à força. Pelo amor de Deus, estamos na era digital, temos acesso à cultura, arte, politica, informação. Os livros nunca foram tão baratos, e ainda temos acesso aos e-books na internet. A solução está ao nosso alcance, e estamos vendo sites de futebol, big brother e de mulher pelada? Se continuarmos assim, que Deus tenha piedade de nós. Poder é informação e só vamos ser os verdadeiros patrões quando começarmos a adquirir a informação que engrandece. Os coronéis sabem disto (menos o Tiririca, talvez; mas ele só venceu porque tinha um cara inteligente puxando os cordões).

Basicamente é isto.


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