sábado, 3 de setembro de 2011

Deputada Mara Gabrilli discursa em Campos do Jordão


Deputada Mara Gabrilli na APAE Campos do Jordão

   No dia 19 de Agosto, a deputada Mara Gabrilli fez um discurso memorável na Câmara Municipal da Cidade de Campos do Jordão. A imprensa da cidade pouco divulgou sobre tal evento, sendo que a maior parte da divulgação ficou a cargo da própria responsável e entusiasta da ideia, a vereadora Joaquina, que também promoveu juntamente com seu grupo, Amigos Em Ação, o Primeiro Dialogo sobre Acessibilidade na cidade.

   Em seu discurso, a simpaticíssima deputada, que é tetraplégica, contou suas histórias de superação e conquistas, deu alguns puxões de orelha em quem deveria e abrilhantou a noite naquele recinto, mostrando como aquela pecinha que fica acima do pescoço (também conhecida como cabeça), é tudo o que necessitamos para sermos seres humanos grandiosos.
Antes do discurso, a deputada deu um “rolê” pela cidade, só para averiguar as condições das calçadas e, deveras, constatou aquilo que eu já comentei aqui no blog (os esquecidinhos podem acessar aqui para conferir: http://blog-crimideia.blogspot.com/2010/08/por-onde-passar.html). Ela própria me falou que não dá pra transitar de forma apropriada pelas calçadas. Surpresa me perguntou: “Como você consegue andar nessa cidade?”, ao que eu respondi... bem, eu respondi o mesmo que eu já postei aqui no blog, ou seja, me aventurando por onde dava, até mesmo no meio do asfalto.

   Ela também visitou a APAE de Campos do Jordão, ocasião na qual tive o prazer de conhecê-la (pois trabalho nesta distinta organização). Sua presença física chamou a atenção de todos (que mulher linda!), mas também sua inteligência e simpatia. Pude relatar a ela minha pequena aventura para cursar a faculdade. Em seu discurso posterior na Câmara, ela também falou da importância do estudo, sobretudo para pessoas com alguma desabilidade física. A deputada reconheceu que conseguiu levar à frente seus estudos devido a uma condição financeira mais favorável que possuía, contudo, nem mesmo esta condição facilitou a quebra de muitas barreiras para sua condição física. Ela teve que colocar a boca no trombone para conseguir acessibilidade em sua faculdade. Ela contou, inclusive que teve de levar um pedreiro para construir uma rampa de acesso no local.

   Por falar em rampas de acesso, também não passou despercebido à Deputada, o fato de que a rampa da Câmara de Campos do Jordão havia sido construída apenas a duas semanas antes de sua visita, e provavelmente foi construída justamente por causa desta visita. Seria legal se a prefeitura da cidade também tivesse pensado em dar um “tapa” nas calçadas da cidade. Mas infelizmente isto não foi feito; a deputada teve de passar por elas, ruins como estavam mesmo; e eu continuo tendo que encará-las assim, todos os dias.

Deputada com Vereadora Joaquina, organizadora do evento,
e Vereadora Rachel Carvajal, da cidade de Sto. Antônio.
   Fica como resumo da ópera, a iniciativa da vereadora Joaquina, os puxões de orelha da deputada e o excelente Diálogo Sobre Acessibilidade que foi realizado no dia 20 de agosto. Vale lembrar, que a imprensa da Cidade não compareceu como deveria e nem mesmo órgãos da prefeitura que teriam interesse direto nisto (tais como a secretaria de turismo).

   Oportunidades assim, não podem passar em branco se quisermos melhorar a qualidade de vida de todos, principalmente a dos portadores de desabilidades físicas, pois como a própria deputada falou “cadeirante não é mais uma minoria, ninguém os vê apenas porque eles não tem como sair de casa, isto devido às péssimas condições de acessibilidade”.
Basicamente é isto.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Quem trabalha pra quem?



No Brasil existiu, e ainda existe em muitos lugares, um sistema chamado coronelismo. O coronelismo, por sua vez, é uma mistura bizarra de máfia com feudalismo onde o coronel faz as vezes de senhor feudal ou de padrinho à lá poderoso chefão. Onde há o coronelismo, o povo vive em condição de subserviência a este senhor todo poderoso. O coronel é adorado por alguns e temido por outros, e é, via de regra, um déspota.

Um coronel pode começar seu “reinado”, a partir de um título acadêmico real ou auto-proclamado; ou seja, ele vai sempre ser um “doutor- alguma-coisa”, tenha ele se formado em medicina, direito ou qualquer coisa; ou não. Assim, o povo vai sempre tratá-lo por uma alcunha respeitosa; ele vai ser “o doutor”; “o padrinho”; ou apenas, “o coronel”; isto dependendo da região do país. Ele pode, inclusive, dar origem a uma dinastia de coronéis.

O povo, por sua vez, vive em um feudo onde as regras são feitas pelo coronel. Em muitos lugares onde o sistema coronelista existe, há um sistema empregatício no qual o coronel emprega muitos em suas terras. Aqueles que trabalham nestas terras, além de serem serviçais, devem “favores” ao coronel; são praticamente coagidos, psicológica ou fisicamente a dependerem dos produtos vendidos nas próprias terras do coronel, fazendo com que seu “salário” tenha sua volta assegurada ao patrão. Outro favor que os trabalhadores devem ao “padrinho” é o do voto; o coronel garante seus poderes políticos por meio destes “favores” obtidos junto ao povo; é aí que entra o nosso verdadeiro assunto.

O que tudo isto tem a ver com nosso dia a dia? Tudo. Porque as marcas do coronelismo estão tão arraigadas no subconsciente do brasileiro quanto as marcas deixadas por nossos ancestrais das cavernas. O brasileiro, por mais que viva em metrópoles, ainda enxerga o politico como um coronel; e, obviamente, o politico também se vê como esta figura autoritária. O brasileiro ainda se vende por “favores” ao padrinho; seja por uma dentadura, um saco de cimento ou a promessa de uma obra em sua comunidade. O brasileiro ainda se vê como um serviçal do politico e o politico se vê como um senhor feudal do povo.



Duvida? Então veja só o que aconteceu em plena virada de ano, quando todos estavam “distraídos” com suas festas e compras de fim de ano: A câmara aprova um aumento de mais de 60% do salário dos próprios parlamentares; que, diga-se de passagem já não dos mais parcos, ainda mais contando com outras regalias como direito a carros particulares, viagens custeadas pelos contribuintes, etc...

Ora, se isto não é coronelismo, o que é então? Democracia é que não é; democracia é o povo no poder; na democracia o povo é o patrão e o político é o serviçal; nunca o contrário. Então me responda, sábio leitor, se o povo é o chefe e o politico o empregado, quem deve aumentar o salário dos parlamentares? Eles próprios? Nunca. O povo é quem deveria decidir estes assuntos, ou pelo menos interferir, opinar, manifestar-se e o que é melhor, despedir os funcionários incompetentes. Mas o que estamos fazendo? Estamos acanhados, tal qual aqueles mesmos caras que engoliam sapo dos coronéis. Estamos colocando os mesmos coronéis no poder, até os dias de hoje.O salário do povo ainda está voltando para os bolsos dos coronéis, só que agora por meio de impostos e falcatruas.

Enquanto não encararmos a realidade, aprendermos sobre politica e sobre a verdadeira democracia, os parlamentares e todos os coronéis do governo vão continuar aumentando o próprio salário e reduzindo os nossos, como se eles fossem os patrões e não nós. Eles vão continuar mandando e desmandando, nos mantendo analfabetos, não só de letras, mas analfabetos políticos para sempre; assim garantindo esta nossa postura feudalista.

É hora de tirarmos, de uma vez por todas, este legado maldito herdado de nossos antepassados que engoliram coronéis e ditaduras, pensando que o sistema era aquilo mesmo. Ele não é. Nós deveríamos estar no poder e a única forma de colocar as coisas nos devidos eixos é com uma mudança cultural e educacional. Se o governo não nos dá educação, então vamos tomá-la à força. Pelo amor de Deus, estamos na era digital, temos acesso à cultura, arte, politica, informação. Os livros nunca foram tão baratos, e ainda temos acesso aos e-books na internet. A solução está ao nosso alcance, e estamos vendo sites de futebol, big brother e de mulher pelada? Se continuarmos assim, que Deus tenha piedade de nós. Poder é informação e só vamos ser os verdadeiros patrões quando começarmos a adquirir a informação que engrandece. Os coronéis sabem disto (menos o Tiririca, talvez; mas ele só venceu porque tinha um cara inteligente puxando os cordões).

Basicamente é isto.